Recentemente, comecei a usar o Notion, um site que permite criar uma espécie de planner virtual, com abas organizadas e uma possibilidade de personalização tão democrática (nada de códigos de programação!) que foi justamente o que me conquistou logo de cara. Pois bem, acontece que estou apanhando daquele site! Com as infinitas ferramentas de customização e os diversos recursos que a plataforma oferece, é o tipo de espaço que exige um tempinho a mais explorando e testando — e vocês sabem que, se tem algo que eu não tenho, é tempo. Ainda assim, pretendo tirar um dia de folga para tentar organizar meu Notion e criar um cantinho bonito e funcional onde eu possa dar conta da minha vida, que ultimamente anda se espalhando como um tornado. Algumas novidades recentes tiraram as coisas dos seus eixos, e estou tentando adaptar tudo à minha velha rotina (estudar, trabalhar, ver filmes da minha lista...).
Sou totalmente do tipo de pessoa que prefere se organizar por meio de listas e anotações. Agendas físicas ou planners tradicionais, embora mais simples, nunca funcionaram comigo. A escrita à mão só flui bem quando se trata de conteúdos didáticos e estudo em geral — aprendo melhor escrevendo. Esses dias, assisti a um vídeo da Nátaly Neri sobre organização e bullet journal, e ela explicou que grande parte da escrita criativa dela surgia com mais naturalidade no papel. Isso me fez refletir. No meu caso, a escrita criativa — aquela essencialmente mais íntima, como um diário, que gosto de chamar de escrita introspectiva — funciona melhor quando estou digitando. Parece que, enquanto escrevo, mil ideias aparecem de uma vez, e no papel, mal termino um parágrafo e minha mente já imaginou o texto inteiro. A velocidade da minha digitação me ajuda a acompanhar melhor esse fluxo mental e transformar os pensamentos em palavras com mais precisão. Dito isso: preciso aprender a usar o Notion!
Esses dias pela madrugada acordei com a cabeça cheia e o corpo leve demais pra dormir. Fui tropeçando em pensamentos, caí num devaneio sobre existir — e estar só. Pensei nas decisões que tomei pra não me sentir sozinha e nas pessoas que deixei pra trás voluntariamente, justamente pra continuar sozinha. Foi aí que percebi: há um paradoxo entre o afastamento e o desejo de presença.
Até os dezenove, ficar sozinha era um grito que eu não sabia calar. A falta de identidade, de um "eu" inteiro, me fazia crer que só era possível viver através da vida dos outros. Depois, achei que crescer era bastar-se, construir uma fortaleza, erguer muros, dizer “não preciso dos outros” com a boca cheia e o coração trêmulo. E fui embora de muitos lugares, de muitas pessoas, pelos mais diferentes motivos: um gesto que doeu, uma expectativa não cumprida, um silêncio que me atravessou. No fundo era só o velho medo da solidão vestido de orgulho. E mesmo quando saía por cima, com o peito inflado e o passo firme, a sensação não durava. Como o vento que sopra por frestas esquecidas: a saudade sempre voltava.
Naquela noite pensei em quem perdi, nas ausências que pesam, nas perguntas que ficaram sem resposta, e me perguntei: será que amadurecer é mesmo se bastar? Ou será que é ficar — mesmo quando o lugar não é todo conforto? Porque viver, em essência, é desconfortável. As relações que construímos ao longo da vida imitam a própria vida: imperfeitas. Talvez crescer seja entender por que algo nos fere e aprender a não fugir. Talvez seja enxergar que cada um só dá o que pode, e às vezes o que podem é pouco. Não podemos esperar que alguém nos salve da nossa solidão. Que nos animem, nos validem, nos reconstruam. Tenho aprendido que a vida se constrói com autonomia. Que devemos esperar mais de nós mesmos. E que, embora seja essencial cultivar conexões verdadeiras e saudáveis, no fim do dia, ainda assim seremos um corpo e uma cabeça tentando encontrar sentido. Lidar com a própria solidão é uma pintura em aquarela que molha e rasga o papel antes da tinta fluir com graça e leveza e dar o próprio efeito que só a aquarela trás.
Amadurecer, de repente, pode ser não ir embora por orgulho, não devolver com indiferença o que nos fere. Amadurecer pode ser enxergar que há histórias por trás de cada frieza, formas diferentes de amar, modos de viver que não são os nossos. É demais esperar que nos deem tudo: amor, presença, sentido. Essas coisas, quando não nascem dentro, nunca bastam quando vêm de fora. E talvez seja isso: ou a gente aprende, ou viveremos eternamente esperando que alguém nos prove o que deveríamos saber desde sempre. Mas agora acho que precisamos mais que nunca uns dos outros, é preciso saber que embora as relações que construímos ao longo da vida não representem nossa totalidade, mas nos ajudam a entendê-la e vivê-la.
Desculpem o cunho de autoajuda do post, é importante reintegrar que isso tudo está fazendo parte do meu processo de aprendizagem. Mas não deixem de apresentar suas perspectivas sobre como vocês entendem a solidão, e também sobre o Notion, vocês o usam ou pensam em usar?
Fiquei especialmente tocada com essa parte: “Talvez crescer seja entender por que algo nos fere e aprender a não fugir.” Eu também fui embora de muitos lugares e pessoas, com o peito cheio de razão e um vazio que demorou a passar. Hoje, vejo com mais clareza o quanto o orgulho muitas vezes fala mais alto que o afeto não dito. E olha, eu ainda não conhecia o Notion! Fiquei super curiosa, porque sou dessas que adora planejar e organizar tudo com carinho (mesmo que nem sempre funcione rs). Vou dar uma olhada com calma e, se conseguir entender como usar, depois te conto!
ResponderExcluirhttps://jusreads.blogspot.com/ 💜
Está sendo meio chatinho de aprender a usar o Notion, espero que pra você seja mais fácil do que pra mim! Beijinhos!
Excluireu sou devota do notion!!! comecei a usar alguns anos e nunca mais larguei. introduzi ele pra minha chefe e agora usamos pra organizar as coisas do trabalho. eu amo criar páginas, amo organizar as páginas e depois preencher cada uma delas. pra te ajudar com sua dificuldade, dentro do próprio site do notion tem os templates já prontos que outras pessoas fazem. tem uns pagos, mas tem uns ótimos que são gratuitos. talvez isso te ajude a entender o que dá pra fazer e talvez como fazer. no youtube tem uns vídeos tbm (a maioria em inglês), ensinando como mexer e fazer algumas coisas. super me identifico com vc, minha escrita flui muito melhor digitando. ainda mais quando é num espaço que me sinto confortável, como o notion. ah, se quiser uma ajuda com ele, pode chamar!
ResponderExcluirbeijinhos, nanaview 💌
Muito obrigada pelas dicas amor! Vou tentar ver isso dos Templates prontos, e eu já venho vendo mesmo uns vídeos no Youtube. Eu também gosto muito de criar páginas, personalizar páginas, preencher páginas, acho que é algo em comum pra nós que escrevemos em blogs ksksk beijocas!
ExcluirOi Ayla! Bem-vinda a seita do Notion xD
ResponderExcluirEu me senti perdida logo quando comecei a mexer, realmente são muitas ferramentes, e a medida que você se familiarizar vai começar a ter mais controle sobre como usar as ferramentas para as suas necessidades. Recomendo baixar algum modelo de planner da internet para você ver quais ferramentas servem e como podem ser adaptadas. Hoje em dia eu uso o notion para tudo, principalmente para estudos. Sobre a questão da solidão, eu sempre curtir ficar mais na minha, bem introspectiva, ainda acho que sou esse tipo de pessoa, mas de uns anos para cá tenho refletido bastante sobre solidão e solitude, e quem eu sou quando estou sozinha. Pensar sobre essas coisas é fundamental, quando estamos bem sozinhas, conseguimos ficar na presença de outros de forma mais saudável, temos nossa independência e escolhemos passar um tempo de qualidade com outros.
Garota do 330
Eu vou tentar fazer isso pra otimizar meu tempo e enquanto também eu aprendo a usar o Notion. E sim, é bastante importante sabermos reconhecer quem somos quando estamos sozinhas (mesmo que pra mim ainda seja uma grande pergunta XD
ExcluirOi Ayla, tudo bem contigo? A correria da rotina está puxada em, vizinha?! Passando pra dizer que estou sentindo falta das suas postagens e da sua delicadeza nas palavras! Espero que esteja bem, bjs!
ResponderExcluirOi! Gostei demais do teu texto! Também me bato muito com o Notion, até hoje não aprendi a usar direito. Geralmente só faço uma tabela na página e pronto, se precisar de mais eu procuro algum modelo já pronto e vou apagando o que não é relevante pra mim, hahah.
ResponderExcluirGostei muito da sua reflexão sobre como em alguns aspectos a gente tem que se bastar, não no sentido de nos isolarmos totalmente, mas entender que isso é nosso papel e não do outro. Sinto que demorei demais pra aprender essa lição mas, no fim, acho que aprendi o suficiente pra tirar uma boa nota no teste (?).
Beijinhos!