Apenas uma breve observação sobre a imagem acima: não sei se já assistiram “Portrait de la jeune fille en feu” ou “Retrato de uma Jovem em Chamas”, mas venho empolgada contar um pouco sobre o filme, dirigido por Céline Sciamma e com as indispensáveis atuações de Adèle Haenel e Noémie Merlant.
Desde o primeiro momento do longa-metragem já pude sentir que aquele baile poético iria me tirar para dançar (e veja, a este ponto do post, já estou em “Third Eye”), mas em uma dança sutil, taciturna — uma cena pintada a óleo em um quadro.
A arte plástica, em especial a pintura, é o background do filme. Cada cena é filmada sob uma paleta de cores vívida e com a tamanha delicadeza de uma louça pintada à mão, com planos naturais em contrapartida à França moderna do séc. XVIII: a praia e o mar versus vestidos longos e estruturados; o corpo nu feminino e o coração selvagem ante o moralismo e a etiqueta.
Esse também é um filme silencioso, sem trilha sonora: sua sonoplastia conta apenas com o som ambiente, trazendo uma atmosfera dotada de naturalidade e fluidez. Já a trama em si também é uma história simples, cheia de romantismo e inspirada em uma metáfora do mito de Orfeu e Eurídice, traduzida em uma versão sáfica contemporânea.
Aqui temos a trajetória de duas mulheres que, aos poucos, vão se amando. O que é mais bonito nesse filme é como ele consegue falar sobre o amor em todas as suas facetas: o primeiro olhar, o primeiro toque, a cumplicidade que cresce na confiança, os primeiros esboços feitos sob a observação das mãos, do colo, do maxilar; a página 27, o pequeno espelho sob a vulva, os dias juntas, a memória que não se perde. São esses os elementos que me fizeram me apaixonar por esse filme, com a ternura e a força do amor. É calmo, é tranquilo, vai durar — graças a esse filme até fiz alguns meses de francês no Duolingo. Mas, enfim.
Não lembro exatamente em qual ocasião, mas de súbito tenho a memória de estar ouvindo um podcast no Spotify, e uma ideia compartilhada pela locutora tomou grande sentido pra mim: a falta de atividades manuais apodrece o cérebro. Em uma era de consumo em massa, é fundamental criar, produzir, mesmo que como hobby pessoal. Mesmo quando estamos consumindo algo que nos faça refletir e encha nossos olhos de beleza, criar também é um exercício fundamental ao cérebro. Pensando nisso, resolvi pôr em prática um desejo antigo: pintar aquarela. De aniversário então — diga-se de passagem, ocorrido em 16 de agosto — me presenteei com um kit amador de aquarela. Pintei algumas coisas e me surpreendi com a forma como a concentração em criar cessa, por um momento, alguma tempestade que possa estar devastando nossa cabeça. Fiz algumas pinturas, nada desenvolvido da forma que eu gostaria, mas, após o ENEM (assunto sobre o qual em breve vou comentar), pretendo praticar melhor meu traço e ver vídeos sobre pintura em aquarela. Aprimorar sua técnica e ver sua própria evolução é o que torna um hobby tão especial — e o que o alimenta, afinal de contas.
A propósito, devem ter notado, mesmo pelo layout do blog, que sou bastante inclinada aos traços que não têm muito comprometimento com o realismo — algo até mesmo lúdico, que lembra ilustrações de um livro infantil.
Acredito que esses fardos passados foram o que ocorreram para que as coisas se desenvolvessem até que, enfim, tiveram seu fim. E, quando acaba, sempre é difícil voltar à solidão, já desconhecendo os mecanismos para viver ao lado dela. É como aprender a andar novamente. Mas a boa notícia é que estou me saindo bem — tão bem que voltei pra cá. :)
Sobre o ENEM: larguei o cursinho preparatório que estava frequentando, principalmente pelo tempo apertado, e talvez por imprudência minha. Mas o que importa é que agora, na reta final, faltando menos de um mês pro ENEM, estou estudando novamente, e eu espero que tudo dê certo.
Como perceberam, neste post não comentei sobre minhas últimas leituras — afinal, sim, elas ocorreram —, mas estou reservando um post especial para falar sobre isso. Em suma, peço perdão pela minha ausência às poucas pessoas que estavam aqui, lendo, interagindo, me ouvindo. Se leu até aqui, muito obrigada :-)




Bem-vinda de volta Ayla! Senti sua falta <3
ResponderExcluirA vida tem desses pequenos caos que se instauram e a gente precisa de alguma forma dar conta de voltar para o eixo. Não conheço o filme que você mencionou, vou procurar, fiquei interessada nesse rolê de não ter uma trilha sonora. Sobre atividades manuais, eu concordo muito! Tenho buscado desenvolver passatempos que envolva a atenção e tempo fora da internet, nessa eu montei um quebra-cabeça e estou aprendendo crochê. Suas pinturas ficaram lindas!! E sobre o enem, vai dar certo <3
Garota do 330
Oi, diva! Também estou interessada em aprender a fazer crochê, mas acho que vou guardar isso pra ano quem vem. Muito obrigada por estar aqui, beijocas!
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