Finalizada há poucos instantes minha leitura de A Redoma de Vidro da maravilhosa Sylvia Plath, senti que deveria vir correndo escrever um pouco sobre ele. Primeiramente, gostaria de avisar que nessa curta resenha teremos spoilers, caso queiram a surpresa de ler o livro sem saber de nada. Já comentando um pouco sobre o final do livro, fiquei positivamente surpresa, eu me lembro de ter ouvido falar em algum lugar que a Esther acabaria por cometer suicídio ao fim do livro, mas não é o que ocorre, na verdade o final fica em aberto. Ficamos sem saber se a Esther finalmente será liberada do manicômio, se permanecerá lá, ou até mesmo quais rumos decidirá tomar após aquela passagem, como ela mesma menciona no livro, antes da saída, pudera prever o que seria quando saísse dali, mas na véspera da saída, era como se seu futuro agora fosse um grande ponto de interrogação. Eu não pude deixar de me sentir feliz pela Esther quando descobri que ao final, ela acabara não morrendo, diferente da própria Sylvia, e sendo a Esther um espectro da Sylvia, senti como se de alguma forma, a Sylvia acabou vivendo também. Foi como uma pequena brecha na redoma pra mim.
Comentando um pouco a respeito das primeiras partes do livro até a metade, o fator mais magnético da trama com certeza é a própria Esther, que pensa os pensamentos da Sylvia e diz suas palavras. A Esther, embora se perca em uma grave depressão e uma desmotivação pelo mundo que lhe cerca, é sarcasticamente cômica; em diversos momentos dessa leitura explodi em gargalhadas sinceras com alguns comentários e pensamentos da Esther. Ela é uma personagem multidimensional, na qual se existe tanto sombra quanto luz, jamais sendo unidimensional, o que a torna tão real e aproximável de nós, leitores. A Esther inicialmente nos envolve em sua situação de um glamoroso estágio em Nova York — onde eu penso que ela estava principalmente tentando se encaixar, já que sua melancolia profunda não tinha cara de novidade, e sim de uma presença antiga, e vamos aos poucos sendo introduzidos a seus conflitos pessoais e sua depressão, que vai piorando e se alastrando cada vez mais, nos fazendo tanto sentir empatia por tudo aquilo que ela está passando quanto ficarmos receosos quanto as atitudes que a Esther poderá tomar. Entre um estágio em Nova York, um futuro promissor na faculdade sendo bolsista em um curso de Letras, alguns romances malfadados e uma cúpula neblinosa embaçando o mundo de fora, Esther nos cativa e nos leva um pouquinho para dentro daquela redoma. Imagino que para algumas pessoas deva ser uma leitura meio chocante, já que existem inúmeras descrições de automutilação, tentativas de suicídio e pensamentos sobre a morte.
Embora A Redoma de Vidro seja um romance soturno e que retrate um declínio mental tão jovem, confesso que está na minha fileira de "livros que eu com certeza quero reler em algum momento muito especifico da vida", além de se tratar de uma leitura muito fluída graças a escrita simples mas bastante poética da Sylvia, também pois de alguma forma os episódios de tristeza e as reflexões sobre a vida que a Esther nos trás pode soar reconfortante para alguém que lida com sintomas depressivos ou com algum quadro de um transtorno mental. Ao decorrer do livro não existem passagens motivacionais, frases prontas de autoajuda ou qualquer coisa do tipo, é nu e cru, e por isso eu gosto. Em uma passagem do livro, na qual a Esther desmaia por estar passando mal após ter comido um caranguejo estragado, ela havia caído de cara no chão e se sentia confortável com isso, pois sabia que por estar no chão, não havia como cair mais que aquilo. Ler esse livro se parece com isso, e acho que quem vive também em uma redoma de vidro entende o que a Sylvia quis dizer.
Um fato interessante, é que quando a Esther retorna do estágio em NY ela havia se inscrito em um programa de verão de escrita, na qual ela não é aceita e fica bastante frustrada, então ela decide escrever seu próprio romance (embora depois abandone a ideia) e que sua protagonista seria, em suma, ela mesma. Ela resolveu que daria um nome de seis letras a sua personagem, já que Esther tem seis letras, assim como Sylvia também tem seis letras.